Por Daniel Thame
Nos últimos dez anos, dona Maria Antonia Conceição, o marido José Antonio Felipe Santos e os oito filhos do casal levaram uma vida sofrida, mas digna, de agricultores na região da Sapucaieira, em Olivença, no Sul da Bahia.
A família cultivava cacau, mandioca, feijão, melancia, cana de açúcar e piaçava numa propriedade de 40 hectares.
Há vinte dias, dona Maria Antonia e sua família foram transformadas, técnica e literalmente, em sem-terras.
Para não ficar na rua, estão morando na casa de parentes.
A família de dona Maria Antonia é um dos muitos exemplos produzidos pelo absurdo perpetrado pelos burocratas da Fundação Nacional do Índio, que sob a justificativa de reparar erros históricos criou um monstrengo jurídico que colocou indígenas e agricultores familiares sob um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento, tamanho o nível de tensão reinante na área em disputa.
A região da Sapucaieira está no olho do furacão de um conflito que se acentuou depois que a FUNAI reconheceu uma área de 47.376 hectares como reserva indígena pertencente aos tupinambás.
Embora seja apenas um estudo que precise ser referendado e ainda passar pelo crivo da Presidência da República, o documento acabou funcionando como um estímulo para que os indígenas começassem a invadir fazendas que julgam deles desde todo o sempre.
No caso de dona Maria Antonia e de tantos outros agricultores, eles não tiveram nem o direito de retirar seus pertences. Alguns denunciam que tiveram os produtos agrícolas saqueados e as casas queimadas.
Mandados de reintegração de posse, conferidos pela Justiça, estariam sendo ignorados pela FUNAI, sob a alegação de não possuir estrutura para isso.
No caso da reserva, que envolve áreas de Ilhéus/Olivença, Una e Buerarema, o que está em jogo não é apenas uma eventual reparação aos tupinambás, mas a sobrevivência de 18 mil pessoas que vivem legalmente em suas fazendas e dali tiram o seu sustento. E que não podem ser riscadas do mapa como simplesmente não existissem.
É legítimo que os indígenas, explorados durante séculos, busquem seus direitos e tenham acesso a uma terra que pertenceu a seus ancestrais.
Mas é legítimo também que milhares de famílias tenham seus direitos garantidos, sob pena de serem confundidas com grileiros ou usurpadores que, efetivamente, não são.
Trata-se de uma situação delicada, em que devem imperar o bom senso e o diálogo, de forma que ninguém saia prejudicado, visto que índios e agricultores familiares compõem a imensa legião de brasileiros que necessitam romper a barreira da exclusão social e levar uma vida digna.
Bom senso que, por sinal, faltou à FUNAI e que agora deve prevalecer entre o Governo Federal, o Governo Estadual, os agricultores e os indígenas.
Porque, tudo o que o Sul da Bahia não precisa neste momento é que alguém acenda o pavio e detone essa bomba, criando um novo e indesejado Pau Brasil, não a madeira que dá o nome ao País, mas a cidade engessada há a décadas por uma disputa sangrenta e ferrenha envolvendo fazendeiros e índios pataxós.

Respostas de 4
Thame, realmente admiro o seu jeito de escrever, concordo plenamente com tudo o que está escrito acima. A FUNAI realmente criou uma situação complicada, assim como é complicada a situação de Pau Brasil. Não tenho a menor dúvida de que haverá derramamento de sangue, luta armada e uma verdadeira guerra civil na área citada. Muitos índios e trabalhadores, lavradores e fazendeiros irão tombar por terra, por conta de um relatório polêmico e negligencioso da FUNAI. Antes eu até concordava em que houvesse reparação por todos so crimes cometidos contra o povo negro e indígena, mas no atual momento vejo que o modo agrsssivo e muitas vezes violento desse que se acham minoria vem em assustando. Não será o momento de revermos determinados posicionamentos??
índio tem trabalhar,se for pra dar terra que seja pra todos os brasileiros.
Medo de perde minha casa, para onde vou leva meus filhos se esse povo invadi minha casa? afinal não sou tão digna de um pedaço de terra tanto quanto eles? e de um terra que consegui com trabalho, poderia sim reivindica meus direitos de india mulata etc afinal sou feita de uma mistura racial como todo o Brasil.
O PROBLEMA DO BRASIL HOJE, HE AUSENCIA DE AUTORIDADE, OS ORGAOS RESPONSAVEIS DE GARANTIREM A AUTORIDADE E A JUSTICA , NAO FUNCIONAM E QUANDO FUNCIONAM, FUNCIONAM MAL…
A QUESTAO DAS INVASOES, SAO UM PROBLEMA POLICIAL, NINGUEM PODE ESTAR ACIMA DA LEI, MAS O QUE ACONTECE, HE QUE ALGUNS GRUPOS ESTAO,E COM O CONSENTIMENTO DAS AUTORIDADES, E ISSO HE QUE TORNA TODA ESTA SITUCAO MUITO ESTRANHA.
SOMOS REALMENTE UM PAIS DE DIREITO? OU UM LUGAR ONDE SE VIVE NO SALVE-SE QUEM PUDER?