Artigo de Paulo Paiva, editor do blog Acorda Meu Povo.
A ciência e a política precisam caminhar de mãos dadas para construirmos um futuro melhor para o Brasil. Não é o que está acontecendo na precipitada votação de mudanças no Código Florestal Brasileiro. O polêmico relatório de Aldo Rebelo tem sido criticado, e apelos tem sido feitos em todas as instâncias da sociedade para que ele possa ser mais bem discutido e avaliado.
O relatório olha a agricultura e se esquece do meio ambiente e da biodiversidade. Quer isentar os pequenos proprietários do dever de proteger os ecossistemas, abençoar os que cometeram crime ambiental e perdoar a recomposição das áreas desmatadas. Também quer respaldar juridicamente todos os cultivos que estão consolidados em áreas de preservação permanente como o café, o arroz, a uva, e também o cacau.
Tempo para o aprofundamento é o que pede a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, lideranças do Partido Verde e do PSOL, e mudanças no texto são defendidas por políticos de todos os partidos, inclusive do PT e da base governista. A pressa é sintomática de um processo que ainda está obscuro, que deixa brechas enormes para a degradação e que afasta, equivocadamente, o desenvolvimento agrícola da proteção ambiental.
O que fica claro nesse embate, assim como nas discussões de Belo Monte, do Complexo Porto Sul e das Usinas Nucleares, é o renascimento de uma oposição, um novo discurso e um projeto alternativo de desenvolvimento. Uma oposição que não se pretende apenas partidária, mas, sobretudo ideológica.
Enquanto o Brasil chora as consequências das chuvas, também causado pela subtração florestal e ocupação de áreas de risco, deveriamos estar desengatilhando um grande plano de recuperação das bacias hidrográficas e áreas degradadas. Ao invés disto, na contra-mão das prioridades, insistimos na radicalização, e perdemos a oportunidade de sensibiliar a sociedade brasileira para a educação ambiental.
Remendos têm sido feitos para melhorar um texto que apresenta muitos problemas. O mais recente deles, o conceito de que a produção de alimentos é de interesse público, que pode ser traduzido como um atestado de que o meio ambiente está em segundo plano, ou seja, se for para produzir alimentos, pode desmatar.
O CASO DO CACAU
O estudo de caso do cacau é muito didático para entender alguns pontos polêmicos do relatório do deputado Aldo Rebelo, já que o cacau está consolidado em áreas de preservação permanente, margens dos rios e encostas com declividade superior a 45 graus.
Ouvimos, reiteradamente, nos mais diversos fóruns e reuniões envolvendo os agricultores do sul da Bahia, o apelo para que as matas ciliares possam ser utilizadas de forma produtiva através de sistemas agroflorestais. O relatório de Aldo Rebelo concorda com isso, determinando que todas as culturas já consolidadas em áreas de preservação permanente passem a ter respaldo jurídico.
É pragmático afirmar que não podemos retaliar, e exigir que proprietários nessa situação em vários estados, produtores de café, de arroz, de uva ou de cacau, abandonem seus cultivos para recuperar florestas. Mas também não podemos incentivar essa prática, tornando-se necessário desestimular sua ampliação, e coordenar, atendendo as peculiaridades de cada estado, uma série de condicionantes para minimizar os impactos, bem como um plano de médio e longo prazo para adequação ao código nacional.
Sabemos que a maioria dos morros e serras do sul da Bahia são fazendas de cacau, como também os principais rios estão margeados por sistemas agroflorestais. Com a aprovação do relatório proposto, todas essas áreas estariam consolidadas como área agrícola. Sendo assim, nada impediria o agricultor de não favorecer a conservação dos sistemas agroflorestais, e adotar os preceitos técnicos de que a produtividade do cacau está intrinsicamente relacionada com aumento da exposição ao sol e irrigação.
Ao invés de mudar o código de forma genérica, reduzindo sua eficácia na proteção da biodiversidade, clima, solos, ciclo hídrico e bacias hidrográficas, os conflitos existentes deveriam ser estudados caso a caso, buscando um pragmatismo de conceitos não excludentes, que aproxime cada vez mais o agricultor da proteção ambiental, fatores inerentes da sustentabilidade no campo.
Paulo Paiva é jornalista e ambientalista (e-mail: psergiopaiva@hotmail).

Respostas de 4
Gusmão:
Está difícil isso acontecer, pois a ciência precisa ser estudada e preservada, enquanto os políticos precisam só do voto…
Abre o olho Ilhéus!, não deixe que eles nos engane de novo …
Quem mais desmatou as matas Atlânticas para plantar o ouro negro do cacau, foram os agricultores de cacau.Agora falídos, não são exemplos de Desenvolvimento Sustentável.O campo precisa de pastagem e terras para plantar alimentos.O Brasil é o maior celeiro de grãos do mundo.O mundo precisa de alimentos, como o homem precisa do ar para respirar.Para que os ruralistas cedam, o meio ambiente tem que ceder entrar em concordância para ter o projeto do meio ambiente votado, que agrade os dois lados, gregos e tróianos.Que conservar o meio ambiente e matas cilíares é importante é necessário.Mas que a agricultura só é rendável se for plantada em grande escala, pequenas propriedades e pequenos agricultores produzem alimentos para consumo próprio e ainda vai ao supermercado comprar alimentos.Não é viável manter pequenos sítios e pequenas propriedades, que você tem duas alegrias,uma no dia que compra e outra no dia que vende!O mundo precisa de alimentos, quem vive de brisa amorosa é ambientalistas!
Gusmão:
Você sabia que existe o direito adquirido? pois é , os cultivos que você mencionou ,são ceculares ,e não existia codigo florestal,para ser realmentente implantado como esta na lei o governo tem que indenizar os fazendeiros ,e pagar os lucros cessantes . nós temos o exemplo do Parque do condurú que só foi indenizado ,até apresente data +- 50% dos fazendeiros.
Então todas as localidades ( povoados, vilas ecidades ) situadas nas margensde rios teriam de implantar a área de preservação permanente , governo tem tem orçamento para por em pratica isso?será que o vilão de toda esta safadeza querendo culpar a destruçao das matas são os fazendeiros.Por que nos paises da europa e amarica do norte as Ongs de origem destes paises não implantam lá tambem , os bestas somos nós brasileiros agricultóres !!!!!Vamos deixar de defender interesses clamufados e economicos das comunidades economicas internacionais .Pois o impacto economico e social sera incalculavel para o Brasil . Basta de exodo rural e favelização das cidades das cidades .
para
CORREÇÃO:
No parágrafo abaixo onde está escrito “interesse público” leia
“INTERESSE SOCIAL”.
No mais:
Uma nova oposição no Brasil é aquela que quer governar com planejamento estratégico, com visão e tecnologia do futuro e com participação ampla da sociedade. Esse Brasil que queremos que não apenas uma potência econômica, mas um exemplo para o mundo.