Por Julio Rocha
No ultimo sábado dia 16, em Brasília, estabeleceu-se as bases de um novo espaço da política nacional, capitaneado, dentre outras pela ex-senadora, ex- ministra do meio ambiente e candidata à presidência Marina Silva. Milhares de pessoas de diferentes origens deram passo decisivo para a proposta de criação da mais nova organização partidária brasileira: a rede sustentabilidade. De fato, foi o passo inicial para coleta de apoios na construção de um “partido novo para uma nova política”, segundo seus idealizadores.
Mas, necessário pontuar, que existe outro elemento que não emerge neste instante: por um lado, o incomodo pelo seu surgimento com propostas diferenciadas: horizontalidade, limitação de tempo de mandatos parlamentares, candidaturas avulsas, conselho de acompanhamento formado por cidadãos, utilização intensa das mídias sociais etc.; por outro, observa-se o maior deslocamento de setores da esquerda brasileira para elaboração de um projeto político nos últimos anos: segmentos significativos do PT, PSOL, PV, PDT, PSB, dentre outros partidos e movimentos sociais, estão a caminho de uma proposta de reconfiguração do cenário político nacional.
Não se trata como alguns querem a repetição da composição dos grupos que acompanharam a construção da campanha presidencial de Marina há quatro anos, mas a formação de um novo bloco histórico (na linguagem de Antonio Gramsci) e um projeto alternativo nacional sendo pautado na centralidade das discussões sobre sustentabilidade e incorporação de amplos setores na cena política, contraponto ao sistema neoliberal vigente da democracia Schumpeteriana.
Bom pontuar, como indica o italiano Antonio Negri, as pessoas (ou “as multidões”) estão buscando novas formas de sociabilidade na pós-modernidade (ou modernidade tardia) e novas formas de participação, vide Movimento Desocupa, Ocupe Wall Street, Primavera Árabe e Fórum Social Mundial. De fato, se historicamente o PCB teve participação relevante nas lutas históricas nacionais e se caracterizava como partido de quadros no passado; o PT, maior partido de massas da esquerda brasileira na atualidade; a Rede pode se tornar um “partido de multidão”, de caráter difuso, “ampliando o presente para expandir o futuro” no dizer de Boaventura de Sousa Santos, sem deixar de mencionar que a nossa sociedade é da “informação em rede”, segundo Manuel Castells.
Enfim, todas estas questões impõem reconceitualizar o conceito de democracia e a própria democracia, com a ampliação de espaços de atuação direta de cidadania. Por sua vez, avançar no entendimento de sustentabilidade para que tenha um caráter emancipatório e possa chegar às multidões, com políticas afirmativas aos povos e comunidades tradicionais, segmentos historicamente excluídos.
O Desafio esta posto, não para atender a dinâmica eleitoral pura e simples (curto prazo) ou a disputa por uma burocracia partidária, mas que venha a rede ampliar o presente para resgatar utopias e sonhos perdidos no tempo e que ofereça futuro.
Julio Rocha é professor da Universidade Federal da Bahia.
