BLOG DO GUSMÃO

RADIOGRAFIA GERAL

Por Marcos Pennha

Marcos Pennha* O artigo anterior a este, Cirque du Só de Ilhéus, bombou, como se diz na gíria. Alguns vereadores, mencionados direta ou indiretamente, tomaram as dores e dispararam suas metralhadoras verbais, última terça-feira (16), dia de sessão, contra este simples cidadão Marcos Pennha, que, por sinal, sou eu.

Tenho a plena consciência do meu direito de responder, no plenário, quando fui acusado de ser algoz da Câmara, em especial daqueles componentes da bancada oposicionista ao governo municipal. Essa acusação foi feita por alguns vereadores, publicamente, no microfone, e “em off”. Prefiro utilizar a minha tribuna, que é esse prestigiado site, e outras daqui derivadas, que têm um alcance maior de reverberação.

Quem aqui escreve é o cidadão, utilizando as técnicas do jornalismo, a partir do momento em que se prima pela isenção das ideias e linguagem adequada.

Penso que se faz necessária a apresentação da singular radiografia da política de Ilhéus, colocando em pauta algumas personagens, com o fim de que as pessoas entendam melhor o presente momento.

Certa noite, em 1996, um amigo convidou-me para assistir, na academia de boxe de Zé Negão no Alto do Basílio, uma reunião com o então neófito político, candidato a vereador Alisson Mendonça (atual vereador no 5º mandato/ PT), à época pelo PMN, que compunha a coligação do candidato a prefeito Jabes Ribeiro (atual prefeito/ PP, que já havia ocupado o cargo, período 1983/ 88, também deputado federal, legislatura 1991/ 94), pelo PSDB. Gostei das suas explanações, e, de lá pra cá, me tornei seu admirador, inclusive já tendo declarado essa admiração ao próprio.

Pois bem, Alisson não gostou, quando afirmei, no artigo, que ele não tem autoridade moral para exigir um grande projeto, do atual governo municipal, que tem apenas pouco mais de 100 dias de empossado, sobre o trânsito.

Pensei que o vereador fosse rebater a minha afirmação, apresentando algum projeto produzido por ele, quando ocupou, por quase dois anos, pastas importantes como as de Governo, Administração e PLANEJAMENTO na gestão de Newton Lima, que terminou em 2012. Ao contrário, Alisson desconversou, insinuando que alguns blogs e escritores de artigos estão querendo denegrir a imagem da Câmara, além de poupar o governo de críticas ácidas. Denegrir a imagem da Câmara? Não foi nenhum profissional da comunicação que ameaçou alguém de morte, nem deu cabeçada, nem proferiu palavrão, …

Ele não leu meu artigo completo. Seria bom que conferisse de novo.

Alisson também não fez a leitura do “Câmara na zona de perigo” , onde relatei (sic) … A atual legislatura, de 19 vereadores, é composta por maioria de gente equilibrada, séria e comprometida com os anseios da população. (sic) … e complementei (sic) … Essa turma do bem pode ser encontrada tanto no rol de vereadores da bancada do prefeito Jabes Ribeiro (PP), como na de oposição, sem distinção se veteranos ou novatos … (sic)

Do time de novatos e da oposição, destaque para o vereador Dero (PT), que há anos vem contribuindo na incansável luta dos agricultores familiares. É um dos que respeitam o tempo de fala no plenário – 3 minutos no pequeno, e 10 no grande expediente. Sempre se mostra propositivo, como deve ser o bom político.

Sou suspeito para falar dos vereadores Ivo Evangelista (PRB)/ 1º secretário da mesa diretora e Roque do Sesp (PSC). Ambos são meus amigos de infância no Pontal. Fui colega do primário do saudoso Inocêncio, irmão de Ivo, no Grupo Escolar Padre Luiz Palmeira, localizado na Nova Brasília. Não consigo lembrar esse bom tempo, sem que a voz não embargue, nem que as lágrimas não escorram.

Eu e Inocêncio disputávamos, inconsciente e saudavelmente, o título de melhor aluno da sala. Ainda naquela época, Papai do Céu levou-lhe, talvez para o cumprimento de outra missão maior em outro lugar, pois o seu nome já dizia tudo.

Ivo e eu morávamos na rua Barão do Rio Branco. Minha saudosa mãe, Nira, era muito amiga da saudosa mãe dele, dona Vanda. Tenho a fisionomia gravada do seu pai, seu Lolô, e outro de seus irmãos – ambos in memoriam -, que foi colega de escola de um dos meus irmãos; da sua irmã Ivone (ex-colega de escola, também de minha irmã). Enfim, Ivo é notável como trabalhador, bom filho, irmão, marido, amigo e pai de família.

Roque foi meu companheiro de fundação da antiga Associação Pontalense de Futebol (APF), que teve o ‘P’ mudado para Praiana e, hoje, quase 30 anos de existência, é Associação Comunitária e Desportiva do Pontal (ACODEP). Começamos como cacareco’ (modalidade com balizas menores, e sem goleiros) na praia da frente, no Pontal, tendo apenas doze associados. Depois, a mudança para a praia do sul, ocupando dois campos de onze para cada lado. Também, outro grande exemplo de pessoa.

Tomei conhecimento da existência do vereador Cosme Araújo (PDT) na antiga Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (FESPI), atual Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). O meu início, no curso Ciências Econômicas, era o término dele em Direito. Lembro-me bem de sua figura na estrada pegando carona, como faziam, e ainda fazem, os estudantes.

Tenho recordação de Cosme iniciando na política, como candidato a vereador pelo PDT, partido do então candidato a prefeito Antônio Olímpio (O mesmo AO, que foi condenado, essa semana. Confira aqui), em 1992.

Ambos foram eleitos. Antônio (derrotado em 1988, para prefeito, já havia ocupado o cargo, período 1977/ 82, e deputado estadual, legislatura 1987/ 90) derrotou o candidato do então prefeito João Lyrio (in memoriam), Jabes Ribeiro (à época pelo PSDB).

Cosme, que usava um bigodão estilo Zeca Diabo (Personagem interpretado pelo ator Lima Duarte, na novela O Bem Amado, de Dias Gomes, exibido na Globo, nos anos 70), foi reeleito em 1996, no mesmo ano em que Jabes fora eleito prefeito pela segunda vez, derrotando o então candidato do extinto PFL, Roland Lavigne (ex-deputado estadual, federal/ dois mandatos, atual vereador pelo PPS, irmão do ex-secretário municipal de Saúde, Ronaldo. Veja aqui como essa pasta poderia ter o slogan “Saúde para ‘toldos’ .

Daí, o outrora companheiro de palanque e defensor do governo de AO, já sem o bigodão, passou a compor a bancada de sustentação do governo Jabes Ribeiro. Ocupou até a presidência da Câmara.

Como humano e cidadão, tenho todo o direito de opinar. Não acredito, hoje, em qualquer historinha contada na Câmara ou na rua, como não acreditei, em 2000, que a candidatura de Cosme, a prefeito, foi de mentirinha. Segundo as más línguas, a mencionada candidatura tinha a finalidade somente de minar o candidato do DEM, o então deputado federal Roland Lavigne, e favorecer ao prefeito Jabes Ribeiro, que terminou sendo reeleito.

Tanto eu acreditava na candidatura de Cosme, que votei nele, mesmo notando que ele tecia duras críticas ao seu oponente deputado – batia, mesmo!, ao passo que, no outro, só uns tapinhas de leve, em sentido figurado, evidente. O fato foi tão grave, que os vereadores do partido, PSC, ameaçaram abandonar, em bloco, o barco. A revolta também se deu por conta de Cosme, segundo eles, privilegiar o candidato a vereador Édson Silva, que terminou sendo o único eleito da chapa. Continuei acreditando que o meu candidato, o qual eu admirava, pleiteou o cargo pra valer, mesmo depois das eleições, ouvindo dizer que familiar (res) dele foi (am) contratado (s) no governo do reeleito prefeito.

Encerro afirmando que, para entender o presente, é preciso ter em mente o passado. Digo, também, que sou associado-fundador do Instituto Nossa Ilhéus (INI), sim, com muito orgulho. O trabalho de controle social exercido pelas diretoras Maria do Socorro Mendonça e Morgana Krieger, mais a secretária Grazielle Sousa, é fantástico. Diante do que tem realizado o INI, o que faço representa apenas uma gota d’ água no imenso oceano.

Não posso deixar de confessar que ninguém me pauta. Tudo que falo, escrevo e faço é de minha inteira responsabilidade. Também, digo que não tenho o vício desse lance de ‘bater’ pra ser chamado pra negociar. Apenas, exponho minha colocação, embora às vezes até doa em quem admiro.

Eu já tenho minha forma de sobrevivência. Não preciso bajular, nem elogiar, em troca de dinheiro ou qualquer outro favorecimento. Já editei um jornal humorístico, Ponta de Humor, durante mais de 7 anos, sem nenhum anúncio de prefeitura, câmara e político, porque nunca procurei. Só da iniciativa privada. Deixei de produzir, porque quis. Havia acabado o ciclo, para início de outro.

A gente do povo tem que aprender a se unir àqueles que defendem o interesse comum. Como os políticos, salvo raríssimas exceções, unem-se para defender os seus interesses pessoais.

* Marcos Pennha atua como assessor de comunicação. É associado-fundador do Instituto Nossa Ilhéus e, acima de tudo, cidadão. Leia outros artigos aqui. Contatos: [email protected].

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Respostas de 6

  1. Prezado Marcos,

    um texto assim dá um prazer imenso de ler. Pela qualidade literária, pelo senso de verdade, pela união entre ética, razão e emoção… pelo espírito público tão raro hoje em dia.

    Que o espírito dos grandes escritores fortaleça o seu caminho.

    Rui Rocha

  2. faltou acrescentar no curriculo de cosme sua participaçao no governo de vardé como defensor ate o fim. hehehe

  3. * De fato, esqueci mesmo, ilheense. rsrs
    Professor Rui Rocha, obrigado pelas palavras elogiosas à minha arte. Elogio vindo de alguém tão respeitável, é incentivo e motivo de alegra.
    Fortíssimo abraço e bem mais SUCESSO!
    Marcos Pennha

  4. Marção,
    Parabéns pela sinceridade e responsabilidade com as informações pertinentes ao interesse da comunidade ilheense.
    Um forte abraço de um admirador.

  5. Marcos
    essa reunião que vc estava em 1996 na academia de Ze Negão (Certa noite, em 1996, um amigo convidou-me para assistir, na academia de boxe de Zé Negão no Alto do Basílio, uma reunião com o então neófito político, candidato a vereador Alisson Mendonça), eu estava lá também. que coincidência né.

    pra mim o mais importante desse texto é quando vc diz que: Não posso deixar de confessar que ninguém me pauta. Tudo que falo, escrevo e faço é de minha inteira responsabilidade. Também, digo que não tenho o vício desse lance de ‘bater’ pra ser chamado pra negociar. Apenas, exponho minha colocação, embora às vezes até doa em quem admiro.

    isso é de grande valia hoje em dia, pois é triste ver que muitos profissionais da imprensa tem preço nas suas vozes, ou letras.
    continue assim meu amigo e que Deus te Abençoe e te livre de todo homem do mal.

  6. * Meu caro Rones, saiba que a admiração, entre nós dois, é mútua. Muito obrigado pelo elogio e consideração.

    Meu nobre amigo Malherb, então, você é uma prova de que o dito vereador já tinha uma boa conversa, desde aquela época, há 17 anos.
    Você vai lembrar que um dos alunos de Zé Negão sugeriu que ele ajudasse, se eleito, na doação de um espaço para a academia de seu mestre.
    O então candidato saiu pela tangente, dizendo que o candidato a prefeito Jabes tinha o projeto de construir um grande ginásio de esportes, se não me engano, na entrada do Teotônio Vilela.
    Gostei, porque ele, elegantemente, não se comprometeu e, de certa forma, fez a turma entender que esse não é o papel do vereador: fazer doação de dinheiro e/ou bens materiais.
    Pois é, o meu ideal não se encontra disponível para negociação. Isso não é favor. É resultado dos ensinamentos de meus saudosos pais, Nira e Genésio, que sempre agiram com honestidade.
    Ainda tá em meus planos a visita lá em nossa casa de recuperação, meu caro.

    Fortíssimo abraço e bem mais SUCESSO!
    Marcos Pennha

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