BLOG DO GUSMÃO

UMA RIQUEZA A SER PROTEGIDA

Suzana PaduaPor Suzana Padua

Em meio à escassez de água em quase todo o planeta, o Brasil tem o privilégio de contar com uma das maiores reservas de água doce do mundo, o aquífero Guarani. Em vez de tratar esse recurso como riqueza a ser protegida, o governo pretende começar uma empreitada que pode, ao contrário, comprometê-lo.

A exploração do gás de xisto atingirá profundamente o aquífero Guarani, sob o qual jaz, a centenas de metros, a rocha a ser fraturada –o folhelho Irati.

Localizado sob o solo do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, o aquífero tem 1,1 milhão de quilômetros quadrados e profundidade de 1.500 metros. Tem a capacidade de abastecer milhões de habitantes anualmente com trilhões de metros cúbicos de água doce.

Como observa o geólogo Luiz Fernando Scheibe, há grande pressão para que o Brasil, assim como os Estados Unidos, explore o gás de xisto. Existem companhias interessadas na extração e outras, na despoluição da água e das áreas afetadas.

O governo brasileiro manifestou intenção de incluir o gás de xisto na matriz energética do país e agendou o primeiro leilão de áreas a serem exploradas para o final de 2013.

Pesquisadores propuseram uma moratória de cinco anos, tempo para realizarem estudos sobre a viabilidade, a sustentabilidade e as consequências ambientais dessa forma de extrair combustíveis fósseis.

Mas, afinal, por que a ameaça do gás de xisto é tão assustadora?

Sua exploração contamina a água. O xisto se encontra aprisionado em pequenas bolhas de formações rochosas altamente impermeáveis. Diferentemente do gás natural já utilizado e do petróleo, que ocorrem em nichos próprios, o xisto está impregnado na formação geológica.

Sua extração tornou-se eficiente devido a avanços tecnológicos. Um deles é conhecido como “fracking”. Consiste na fratura da rocha e injeção sob alta pressão de grande quantidade de água, explosivos e substâncias químicas, que podem causar vazamentos.

Essa tecnologia baseia-se em processos invasivos da camada geológica, causando impactos ambientais que, embora ainda sejam desconhecidos, podem ser irreversíveis.

A exploração do xisto vem sendo apontada como sucesso tecnológico e econômico nos Estados Unidos. Bilhões de dólares devem ser movimentados, o que pode soar bom para a economia, mas insano para a sustentabilidade ambiental.

A atividade, porém, não é unânime. França, Bulgária e alguns Estados norte-americanos proibiram a extração. O Canadá passa por avaliação criteriosa de sua viabilidade.

Existem pactos de cooperação entre os países que compartilham o aquífero Guarani, mas o Brasil não parece se lembrar dos compromissos assumidos. Pretende abrir concessões para a extração do gás de xisto sem nem mesmo consultar a comunidade científica de forma adequada. Prudente seria aprofundar a discussão com os estudiosos do tema para embasar futuras decisões.

Suzana Padua  é presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Artigo publicado na Folha

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Uma resposta

  1. olha to indignado com esse assunto, diversos países tiveram problemas na extração do xisto (fraking), uma coisa é segurança do processo externo outra coisa é o impacto ambiental interno, que não há meio de garantir segurança,fico mais indignado quando li uma matéria do instituto americano DE TECNOLOGIA(MIT), onde disseram que a tecnologia hoje aplicada em campo(fraking)é muito seguro, a relatos de na extração em diversos países que hoje não há mais a extração liberada, como bem disse até alguns estados americanos,os ambientalista tem que pressionar o governo e mudar essa idéia.

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