Por Valério Andrade Melo
O rapaz à minha frente, na fila para assinar a lista de presença, veste uma camiseta branca com suaves inscrições em verde e azul, pró “Porto Sul” – ps daqui em diante. Pergunto a ele quem tinha dado a camiseta e pago para ele ir à audiência pública. Ele se nega. Pergunto ao motorista de um dos inúmeros ônibus que levou aquelas pessoas. Não sabe. Outra camiseta. Não é da sua conta. Você não é ilheense. Provoco um ex-amigo oportunista: Seja homem! Assuma quem pagou! Não. Você vai divulgar amanhã.
Recebo uma longa lista de normas de comportamento, entregues na assinatura da lista de presença. Tem severas restrições aos questionamentos. Só se pode falar do ps. Na verdade, só se pode perguntar sobre o que estiver de acordo com os critérios do IBAMA. Nada de ferrovia, nada de plataformas de petróleo. São coisas diferentes. Os projetos integrados não interagem. As normas são estas. Obedeçam-nas. Foram feitas para ajudar a empresa e dificultar o debate.
O rapaz que cuida da lista de presença veste uma camiseta branca, ao contrário das audiências anteriores, quando a marca da empresa era exibida com orgulho. Exceto pelos representantes na mesa, não é fácil identificar os funcionários da empresa durante a audiência. Muitos seguranças privados. Muitos policiais militares. Uma pesada grade isola o público da mesa.
Estratégias bem elaboradas de manipulação, intimidação e despistamento.
Hino Nacional. Todos compungidos.
Prefeito de Ilhéus, mais de 1 hora atrasado, vaiado solenemente. Políticos começam a desaparecer.
Vídeo glorioso. Animações maravilhosas. Todas multimídia, sem máquinas reais nem poeira.
Exceto pelo boto-cor-de-rosa da Amazônia, pela definição errada de cabruca, pela estrada Ilhéus-Itacaré cheia de eucaliptos, pelo uso da unidade de distância Mt e outras pequenas incorreções tudo será lindo com o ps. Ilhéus será a terra da felicidade. O melhor lugar do mundo depois do ps. Agora não. Agora é um mangue.
Respostas de 8
Valério, além dos muros da academia, a contribuição de mestres como V.Sa. torna-se necessária para o bem da coletividade e para o perfeito cumprimento social idealizado e proposto pela Instituição com relação a região sul da Bahia. Que vossos digníssimos colegas empunhem essa mesma bandeira e caminhem com coragem e dignidade, usando a palavra transformadora que certamente despertará a consciência dos que ainda dormem.
Grande honra conhecê-lo!
Sinceramente,
Leonardo.
Disse tudo, Leonardo.
Valério,
Que mal tem a polícia nisso? Onde foi que vc viu tantos policiais assim? O que vi foi somente três viaturas e apenas alguns oficiais do comando do batalhão da área, nada mais.
Fico a observar se tem segurança falam, se não tem polícia toca-se terror, mas é cada uma.
Prezado Valério,
Sou ilheense, amo minha terra, porém reconheço que nós jamais tivemos governantes a altura do seu merecimento. Sou formado em geografia pela nossa querida UESC e vejo a implantação desse tal “COMPLEXO INTERMODAL” com muita, mais muita desconfiança. Não vou me valer aqui de termos técnicos, mas acredito que temos aqui assuntos pertinentes para discutirmos por logo prazo no que tange o tema em debate. Mais ou menos entre os anos de 2000/2002 estive com alguns colegas de trabalho em algumas ilhas da bacia de Camamú, em uma delas, se me recordo bem, a ILHA GRANDE, para minha surpresa estava sendo trafegada, isso mesmo, trafegada por caçambas gigantes, que retiravam dalí um minério. Como sou curioso e não estava alí como geógrafo, perguntei para os nativos que minério era aquele. Tive uma verdadeira aula por parte deles, que alegres “pelo desenvolvimento”, diziam ser uma areia que continha um minério utilizado por empresas norte-americanas para a perfuração de petróleo. Não sei até onde isso é verdade, pois não me aprofundei no assunto, mas o fato é que aquelas caçambas não caíram alí de pára-quedas, e alí havia um porto utilizado para o transporte do produto. Bem, como eu ví pessoalmente, posso afirmar que havia nos locais de onde retiraram o tal minério, imensas crateras com água represada, com algum tipo de alga onde só se via poluição, mas o que mais me estarreceu foi o fato de haver alí plantações e mais plantações de coqueiros e ao perguntar para eles, me responderam que era parte da contrapartida da empresa, onde ela se comprometera a “REFLORESTAR” a área degradada. Isso mesmo, coqueiros para reflorestamento de áreas onde antes existia a mata atlântica, como se vê ainda hoje em uma pequena parte daquela ilha. Olha, para minha surpresa também, naquela comunidade composta basicamente por pescadores, nunca comí tanto frango no almoço e jantar como naqueles dias que permanecí alí, achei que comeria muito peixe e frutos do mar, mas para minha tristeza só tinha frango e uma ou duas vezes carne de boi, que desenvolvimento hein?!
Mas voltando para o PORTO SUL, fico a me perguntar; A quem realmente interessa essa ferrovia e esse porto? Que obra é essa que estão querendo realizar a toque de caixa em nome de meia dúzia de empregos para a região onde não se sabe se a mão-de-obra a ser utilizada será realmente local? Por que não houve realmente um debate cristalino do EIA e do RIMA? Me pergunto também; Se o CACAU que era o fruto de ouro de décadas atrás, inclusive sustentando por um tempo o estado da Bahia e era exportado aqui pelo nosso porto, que legado esse produto deixou para a Ilhéus de hoje? Bom, o que vejo na Ilhéus de hoje são carências das mais básica, sobretudo na saúde, onde o tal hospital “reformado” por uma tal de mineradora praticamente não tem leitos para o SUS, e será que ele funciona também nos finais de semana? Se não temos estrutura hoje, como fica a Ilhéus de amanhã com a migração de uma infinidade de pessoas que aqui chegarão em busca de empregoos? Será que a infraestrutura só virá após a implantação desse porto? Será que ela realmente virá? Não seria correto fazer antes o sistema de esgoto e as pilastras para depois levantar uma casa e colocar sobre ela um telhado? São tantos questionamentos, pois tudo parece ser uma imensa “contramão do progresso, do desenvolvimento”. Na atual conjuntura política que vive nosso país, diga-se de passagem o tema do Globo Repórter de ontem a noite, sexta-feira, 13/12/2013, acredito que só nos resta a esperança, esperança que um dia o homem verdadeiramente volte seu olhar para o coletivo, que faça com que aquela música antiga do Gilberto Gil, onde numa de suas estrofes diz: ” A USURA DESSA GENTE, JÁ VIROU UM ALEIJÃO”, saia definitivamente de moda. Desenvolvimento!!!!!! Quero, quero e muito, desejo a todos um emprego, um lar, um médico ao seu alcance, um lazer digno…………..mas como ilheense não quero pagar um preço altíssimo por isso, por conta tão somente do imediatismo político de alguns e por conta de fatores excusos que cercam a implantação desse complexo.
Bom, minha cara está aqui para que tentem bater, mas tenho a plena convicção de que quero e desejo o melhor para minha terra, porém como diz um certo apresentador de televisão numa das emissoras da Bahia; ‘ PENSE NUM ABSURDO, NA BAHIA TEM PRECEDENTES”!
Antes de responder. Este Blog do Gusmão é um espaço democrático que, permite respostas, ao contrário de certos defensores dessa tragédia chamada empreendimento.
Agradeço imensamente os elogios de todos. Esta é apenas uma contribuição para o debate. Outras opiniões são válidas também. Gusmão é exemplar, pois dá espaço para todos, até para a nota oficial do secretário-candidato-promotor da tragédia. Gostaria que os defensores do empreendimento tivessem coragem de apresentarem argumentos decentes para o debate ao invés de fazerem conluios escondidos.
Romilson levantou inúmeras questões importantes. Denúncias graves que o Cinismo Burocrático ignora propositalmente.
Considerando tantas denúncias, questiono o papel de nossos governantes: eles defendem os interesses da maioria da população ou de uma minoria que financiou-financiará suas campanhas? Até quando teremos representantes que não nos representam? Depois reclamam de “black blocks vândalos baderneiros” e perseguem o Reúne Ilhéus. Quem melhor defende os interesses do povo? Reúne Ilhéus ou Jabes?
Em relação ao comentário do José Carlos, sobre a presença da polícia, é fácil correlacionar com essa questão do “vandalismo”. Mas, concretamente, levantei o ponto do grande número de policiais e seguranças particulares porque nas audiências anteriores não havia tanta “seguranças” como nesta. Isso está relacionado com as normas impostas pelo IBAMA para dificultar o debate e inibir as pessoas. Comparando as “normas” que o IBAMA criou para cada Audiência podemos verificar que elas foram inchando e se tornando cada vez mais restritivas. A polícia e os seguranças particulares fazem parte desse contexto.
Muito obrigado,
Valério
Boa tarde Valério:
Estive na audiência pública em Ilhéus,e vi vivenciei muitas destes absurdos que você sinalizou. São apenas 3 minutos! Em três minutos tudo estará resolvido e pronto! Doravante 3 será um número inesquecível! Como falar de direitos e tirar 3 mil dúvidas? Aqui encontro o cinismo!
Quando abordo a questão saúde , não penso apenas no aspecto;doença ,(( mas na cabeça dos que estavam para nos responder, dar comida aos doentes de um hospital dito filantrópico ( Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus)e construir UPA( unidade de pronto atendimento) é solução)); e quem vai promover a saúde? quem vai assegurar as práticas que nos permitem ter saúde?ar puro, água fresca, alimentos saudáveis,conforto acústico,paisagem e mata para andar viver e trabalhar? Ah…. eu gastei mais que três minutos: Aqui encontro a injustiça.
Volto para casa e em menos de três minutos tenho a resposta: Foi um pesadelo!!!
Vamos resumir… com este porto, Ilhéus vai no mínimo dobrar de população, SEM dobrar em segurança, saúde, educação ou transporte.
Ilhéus vai ser rota de narcotráfico, saída de drogas colombianas com a ajuda de corruptos brasileiros. Vai ser campo de prostituição e criminalidade logo em volta. Além de vender minérios do nosso país a preço de banana, como sempre foi nos últimos 500 anos.
Que deus nos ajude… mais um paraíso destruído.
Triste Bahia…Quando viajo nas cidades da nossa belíssima Bahia só consigo me lembrar da música…”Triste Bahia, oh, quão dessemelhante…Estás e estou do nosso antigo estado…Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado…Rico te vejo eu, já tu a mim abundante…A ti tocou-te a máquina mercante, quem tua larga barra tem entrado. A mim vem me trocando e tem trocado tanto negócio e tanto negociante…” (Caetano Veloso)
A palavra chave na minha visão para todos esses absurdos é EDUCAÇÃO.
Educação para a liberdade…para que as pessoas conheçam os seus direitos e deveres como cidadãos e assim possam participar ativamente dos processos decisórios…Infelizmente a falta de acesso à educação digna e justa favorece a perpetuação do cenário da SEGREGAÇÃO e DESIGUALDADE NA NOSSA BAHIA.
PREVALECE A MÁXIMA: “MANDA QUEM PODE E OBEDECE QUEM TEM JUÍZO…”
É interessante para aqueles que detém o poder manter a situação dessa forma…CONTROLE SOCIAL…