BLOG DO GUSMÃO

PROPOSTA DE REFLEXÃO: CACAU GOURMET E A LITERATURA DE EUCLIDES NETO

O escritor baiano Euclides Neto na fazenda Diamantina, em Ipiaú (BA), em 1991
Euclides Neto na fazenda Diamantina, em Ipiaú, em 1991. Imagem encontrada no site da Folha de São Paulo. Ao lado, dois frutos de cacau.

Editorial do Blog do Gusmão

O cacau gourmet e a fabricação de chocolate com percentuais mais elevados de cacau se revelam como a saída promissora para a lavoura cacaueira.

Este blog é entusiasta desse viés, mas espera que os cacauicultores reflitam sobre o passado, sobretudo, em torno das condições de miserabilidade que atormentavam os trabalhadores rurais nessa região. Aquele modelo arcaico, que concentrava renda, não vai mudar o Sul da Bahia. Acreditamos no cooperativismo e na agricultura familiar como soluções que possam traçar um novo rumo com equidade social.

A realidade verificada em muitas fazendas coloca os “meeiros” como parceiros por necessidade, já que os proprietários das fazendas não possuem condições de arcar com os encargos trabalhistas. Essa relação pode perdurar (com as necessárias adequações) e dar início a um novo modelo na relação com os trabalhadores (colaboradores). Isso não significa abandonar o modelo “celetista”. Os produtores em melhor situação, capazes de sair do modelo “exportação de commoditie” e que fabricam chocolate, podem manter esses vínculos amparados nas leis trabalhistas.

De volta ao passado, a pobreza nas fazendas está impregnada na história oral e no universo literário de escritores como Jorge Amado, Adonias Filho e Euclides Neto.

Destacamos o último, nascido em Ipiaú, ex-prefeito de sua terra natal, precursor da reforma agrária no Sul da Bahia e autor de um romance dramático e formidável (dentre outros de igual qualidade) chamado “Os Magros”.

Nesse livro , o agregado Adão sofre para pagar uma ferramenta de trabalho adquirida no armazém da fazenda. O dinheiro que sobra, depois de abatido o valor das prestações do facão, é muito pouco, só dá para comprar farinha e algumas tripas de boi. Os filhos de Adão comem barro. Quando morre uma criança, a família fica feliz, pois terá uma barriga a menos para matar a fome.

Enquanto isso, a esposa estéril e neurótica de Dr. Jorge, o rico patrão fazendeiro, ameniza seus dramas cuidando de uma boneca como se fosse filha. Hábitos supérfluos e muito dinheiro lhe estimulam a levar sua “descendente” para fazer caro tratamento com um pediatra desonesto.

Os dois cenários revelam dramas, mas o primeiro traz a iniquidade, um traço marcante da civilização do cacau .

Mesmo tendo consciência de que a miséria diminuiu graças ao crescimento econômico e aos programas de distribuição de renda dos últimos anos, nesse artigo, propomos que a literatura de Euclides Neto possa ser o ponto de partida dessa reflexão.

A obra desse importante escritor grapiúna foi relançada em março desse ano e obteve destaque na Folha de São Paulo. Leia aqui. Seus livros podem ser encontrados no site da Livraria Cultura, a R$ 25,00 cada.

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