Por Diego Brito
“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”. A célebre frase do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare pode ser interpretada como a ausência da percepção humana aos mistérios e aquilo que está oculto aos olhos nus. Na política, normalmente, só constatamos a ponta do iceberg, ou seja, a maioria das informações, relações, escusas ou não, manobras e outros adjetivos, ficam camufladas, restrito a um grupo seleto de pessoas. É nessa “deep web” política, digna do seriado “House of Cards”, onde o troca-troca, o toma lá da cá reina. Lá é onde os políticos se mostram de fato, já para nós, reles mortais, nos resta acompanhar os noticiários e seus modos nada imparciais de nos transmitir as notícias. Acontece que muitas vezes o que parece ser coincidência ou acaso do destino é fruto de uma imensa articulação nos bastidores, que quase sempre resulta em uma troca de favores, os quais nem imaginamos do que se trata, até que os mesmos vêm à tona.
No domingo (17), o centro das atenções em nosso país foi o “circo” montado na Câmara dos Deputados para a votação do impedimento da presidenta Dilma. “Pelo meu pai, pela minha mãe…”, “Por Deus…”, “Pelo meu estado…” foram as justificativas mais ouvidas por aqueles que deveriam ali fazer uma análise de admissibilidade da denúncia referente às pedaladas fiscais cometidas pela Presidenta da República. O que muita gente não sabe, e nem imagina, é o tamanho da negociata que envolveram tais votos. O jogo dos bastidores, de ambos os lados, oferta de ministérios, cargos, privilégios e tudo mais.
Em nosso estado, a Bahia, recentemente, o governador Rui Costa anunciou a nomeação do senador Walter Pinheiro para a Secretária de Educação do Estado. Ainda a Bahia foi um dos poucos estados onde a Presidenta conseguiu ter maioria, dado a uma grande investida do Governador e seu secretário de relações institucionais, Josias Gomes, sobre a base aliada.
Deputados cujos partidos tinham fechado questão em torno do impeachment, ameaçando de expulsão os “infiéis”, como o Partido Progressista, votaram contra o impedimento. Dos quatro deputados baianos, dois se abstiveram, Cacá Leão (filho do vice-governador João Leão) e Mario Negromonte Jr. (filho do conselheiro do TCM), os outros dois, Ronaldo Carletto e Roberto Britto votaram contra o impeachment. Alguns podem pensar qual a relação entra a nomeação de Pinheiro para a SEC, e os votos dos deputados do PP. Acontece que o primeiro suplente do senador eleito pelo PT e hoje sem partido é o ex-deputado estadual Roberto Muniz, filiado a qual partido? O Partido Progressista, dos Leão, Negromontes, Carletto e Britto.
Eis o prêmio dado ao PP pela fidelidade ao governador Rui Costa. Vale ressaltar que recentemente Pinheiro deixou o Partido dos Trabalhadores alegando divergências com o rumo tomado pelo partido, recusando inclusive a candidatura à Prefeitura de Salvador, onde ACM Neto corre livre, leve e solto para a reeleição, entretanto aceitou a Secretaria de Educação de um estado governado pelo mesmo PT, que lidera o projeto que o senador tanto criticou. Entendemos um lado do mistério, o outro vai além da nossa vã democracia.
Diego Brito é estudante de Engenharia de Produção da UESC, militante do Coletivo Juntos e Secretário de Juventude do PSOL de Itabuna.









Respostas de 2
Aguardei que o texto fosse abrilhantado com um exemplo sobre as artimanhas do lado vitorioso, de São Cunha Sulfuroso e São Temer Silvério dos Reis… Mas é esperar muito da “esquerda” que a direita gosta…
Não entendi o comentário do cSilva, pareceu-me apenas uma oportunidade para usar um clichê vazio e maniqueísta. Pelo que me consta o PSOL está defendendo a candidatura da presidenta Dilma com unhas e dentes, no Congresso, nas ruas e nas redes sociais.