
Ambientada na Bahia, a novela “Segundo Sol” estreou ontem (14) no horário nobre da TV Globo. Mesmo antes da estreia, o folhetim gerou debate sobre a falta de representatividade racial numa história rodada no território baiano, onde mais de 70% da população se reconhece como negra ou parda. O elenco central tem 26 atores, sendo três afrodescendentes.
Para o Ministério Público do Trabalho (MPT), a escolha dos intérpretes não espelha a realidade baiana e afronta o Estado Democrático de Direito. A Globo, por sua vez, afirma que não toma a cor da pele como critério para a formação de elencos.
O MPT emitiu ofício, na última sexta-feira (11), para a TV Globo, com recomendações para que a emissora adeque a novela “Segundo Sol” no sentido de garantir a representatividade racial.
O órgão recomenda que a emissora assegure “a participação de atores e atrizes negros e negras em novelas e programas, dentre outros produtos, a fim de propiciar a representação da diversidade étnico-racial da sociedade brasileira, especialmente em cenários de população predominantemente negra, como no caso da novela “Segundo Sol”, em que deverá fazer adequações necessárias no roteiro/produção, para observância dos princípios orientadores do Estado Democrático de Direito, entre estes a proibição de discriminação (artigos 3º e 5º da CRFB/88), traduzida de forma específica em relação às produções dos meios de comunicação nos artigos 43 e 44 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 – Estatuto da Igualdade Racial”.
O documento também recomenda que a TV Globo realize um censo entre os seus colaboradores, com os recortes de cor/raça e de gênero e indicações de gerências e diretorias.
O órgão estabeleceu prazos de dez dias para que a emissora apresente as medidas tomadas para as adequações da novela “Segundo Sol” e de 45 dias para as demais recomendações. Acesse o ofício.
Em tempo: o caso remete ao livro “A negação do Brasil – o negro na telenovela brasileira“, de Joel Zito Araújo, em que o autor demonstra a falta de representatividade e a presença marginal da população negra numa série de novelas exibidas entre os anos de 1963 e 1997. O trabalho deu origem a um documentário homônimo disponível neste link.
O QUE DIZ A TV GLOBO
A TV Globo ainda não se manifestou publicamente sobre a iniciativa do MPT. Antes, em nota enviada ao Portal UOL, a emissora alegou que “os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos”, por isso a emissora “não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso”.
“Uma história como a de ‘Segundo Sol’, também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordados ao longo da novela, que está estruturada em duas fases”.
“As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente!”, afirma a nota.
