BLOG DO GUSMÃO

Jabes Ribeiro, Mário Alexandre e 600 mortes por Covid em Ilhéus

A impressão que temos em Ilhéus é que tudo – até os maiores absurdos – são possíveis, desde que você seja “amigo do rei”. Tudo é permitido, tudo é acomodado para que os interesses dos “homens de bem” da cidade não sejam prejudicados: armarinhos e relojoarias foram tidos como atividades essenciais para permanecerem abertos em plena pandemia; horários e medidas restritivas foram inexplicavelmente flexibilizadas e, se não há uma lei municipal que enquadre determinada atividade como essencial, faça-se uma a toque de caixa, com a conivência da Câmara de Vereadores, para plena satisfação de um pequeno grupo e prejuízo da grande maioria.

Por Julio Gomes.

Não se trata de analisar a pessoa dos gestores, mas os estilos de governo adotados por cada um e suas consequências para a maioria da população, sobretudo nos tempos de hoje, em que nossas vidas dependem, diretamente e mais do que nunca, do acerto ou desacerto das decisões governamentais.

Penso que seja impossível não começar esta análise relembrando de uma entrevista de Jabes Ribeiro na Rádio Santa Cruz, levada ao ar em 20 de abril de 2020, há quase dois anos atrás. Em uma de suas raras aparições fora do mandato ou de disputas políticas, o ex-prefeito, naquela ocasião, alertou aos cidadãos e às autoridades de Ilhéus sobre as tristes projeções que pairavam sombrias sobre nosso município, de chegarmos a 600 óbitos por Covid, fazendo um alerta necessário, responsável e corajoso para que as devidas providências pudessem ser tomadas, afastando ou minimizando este desastre.

Entretanto, o que se viu desde então por parte da atual gestão municipal foi o mesmo que sempre a caracterizou: um governo dos “amigos” e para os “amigos”, sem colocar em primeiro lugar a preocupação com a maioria dos ilheenses.

A impressão que temos em Ilhéus é que tudo – até os maiores absurdos – são possíveis, desde que você seja “amigo do rei”. Tudo é permitido, tudo é acomodado para que os interesses dos “homens de bem” da cidade não sejam prejudicados: armarinhos e relojoarias foram tidos como atividades essenciais para permanecerem abertos em plena pandemia; horários e medidas restritivas foram inexplicavelmente flexibilizadas e, se não há uma lei municipal que enquadre determinada atividade como essencial, faça-se uma a toque de caixa, com a conivência da Câmara de Vereadores, para plena satisfação de um pequeno grupo e prejuízo da grande maioria.

Quanto à nossa realidade caótica, que seja simplesmente ignorada, como ocorre com a escandalosa aglomeração que ocorre na surreal feira do Malhado e sua gritante falta de higiene e salubridade; e também nos ônibus do transporte coletivo, onde o povo mais pobre, seja por necessidade ou imprevidência, se contamina com o vírus.

Não se trata, aqui, de saudosismo: não tenho saudades nem voto em Jabes Ribeiro, nem em Mario Alexandre, e não sou amigo de nenhum dos dois. Respeito-os como seres humanos e tento analisar com justeza suas atuações políticas. Apenas isso.

Mas neste momento não há como não sentir falta da firmeza do ex-prefeito Jabes, que sabia dizer não e manter-se firme em sua decisão, mesmo contrariando interesses por vezes poderosos e sofrendo severas críticas nas mídias; e que tinha uma conduta mais institucional e mais técnica, negando-se ao “tudo pode”, ao “tudo é permitido”.

Ao escrever estas linhas, fujo ao elogio fácil e conveniente destinado aos poderosos. Antes disso, prefiro falar sobre suas dificuldades, para que possam ser vistas e superadas. E também me dirijo ao povo, aos eleitores, pessoas como eu e você, que ao votar estabelecem o destino da coletividade, sendo também responsáveis pelo que vier a ocorrer quando os eleitos assumem seus mandatos.

Ao escutar, há dois anos atrás, a entrevista de Jabes Ribeiro alertando sobre o que se abateria sobre nós, apenas desejei ardentemente que ele estivesse 100% errado em suas projeções, mesmo sabendo da sólida base técnica em que suas palavras se apoiam.

Hoje desejo apenas, e com o mesmo ardor, que todos nós, governantes e governados, sejamos capazes de aprender com nossos próprios erros, e de corrigi-los.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Blog do Gusmão.

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