
Artigo de Sebastião da Silva Mello Neto.
No dia 15 de outubro deste ano, foi ao ar no Pod Gusma, no canal do Gusmão no YouTube, uma importante entrevista com as psicólogas Juliana Campos e Conceição Vita. Foi uma conversa rica em informações sobre saúde mental, um tema que merece a atenção de todos, pois a boa informação é um dos pilares da prevenção e do cuidado que devemos ter com a nossa saúde, como bem enfatizou Conceição em suas considerações finais.
O neoliberalismo, ao retirar direitos trabalhistas e desmontar os aparelhos estatais de proteção social, prega a maior liberdade para o mercado e o estado mínimo como instrumentos para construir uma sociedade mais desenvolvida e com maior crescimento econômico. Contudo, essa lógica é uma falácia que, na prática, aumenta a exploração da classe trabalhadora (os chamados “colaboradores”), amplia as desigualdades e causa adoecimento físico, emocional e mental.
Paralelamente, o adoecimento em massa, que afeta principalmente, e não por acaso, os mais pobres, serve como fonte de lucro para a indústria farmacêutica e da saúde em geral. Nessa esteira, desde as pesquisas nas universidades, passando pela formação dos profissionais, até os atendimentos nos consultórios, tudo está sendo fortemente influenciado e direcionado pelos interesses econômicos e pela lógica da produtividade. O sistema econômico, ao tragar tudo, transforma tudo em mercadoria e fonte de lucro. Isso tem sido cada vez mais evidente em áreas cruciais como saúde e educação — a lógica do “estado mínimo” que transforma direitos em mercadorias.
A medicalização e a patologização da vida servem diretamente a essa lógica. Aumenta-se o número de pacientes (o mercado consumidor) que consomem os serviços e produtos propagandeados e vendidos como promessas para uma vida mais saudável e feliz. Daí resulta um aumento expressivo de diagnósticos, prescrições de terapias, procedimentos e medicamentos que, em muitos casos, não apenas não resolvem, como podem agravar problemas reais ou imaginários de saúde dos pacientes, além de lhes subtrair quantias consideráveis de dinheiro.
É por isso que, hoje em dia, muitos profissionais de saúde mal olham para o paciente em consultas que duram apenas o tempo necessário para prescrever tratamentos, principalmente medicamentosos. Quanto mais rápido o atendimento, maior a produtividade do “operário” da saúde. O importante não é curar, mas gerar lucro para os empresários do ramo (donos de clínicas e hospitais particulares, planos de saúde, farmacêuticas, laboratórios, etc.). Nesse sentido, quanto mais pessoas “doentes”, melhor, pois isso mantém o mercado aquecido, que é o que realmente importa.
Felizmente, existem muitos profissionais que exercem suas profissões com ética e dedicação, atendendo os pacientes de forma humanizada. Eles resistem, como podem, às fortes pressões econômicas e sociais ditadas por quem lucra com o sofrimento alheio. Esses profissionais são essenciais e merecem todo reconhecimento e apoio pelo importante serviço que prestam à sociedade. Mas, além disso, a sociedade precisa se informar e se mobilizar para lutarmos juntos em prol dos direitos que foram conquistados por nossos antepassados através de muitas mobilizações sociais, como as que deram origem ao SUS. Como também, avançarmos nas conquistas por políticas públicas que supram nossas demandas por serviços de saúde, educação, dentre outros, realmente interessados na saúde e no bem-estar de todos.
Sebastião da Silva Mello Neto é licenciado em Química e servidor da Prefeitura Municipal de Ilhéus.
Veja o Pod Gusma sobre saúde mental com Juliana Campos e Conceição Vita.







