BLOG DO GUSMÃO

MARIA PRESTES EM ILHÉUS: O RESGATE DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE UM HERÓI

Maria Prestes e José Henrique Abobreira.
Maria Prestes e José Henrique Abobreira.

José Henrique Abobreira, colunista deste blog, lembrou a ocasião em que Dona Maria Prestes, viúva do Cavaleiro da Esperança, visitou Ilhéus. A lembrança é uma bela homenagem aos trabalhadores de todo o mundo. Leia.

Por José Henrique Abobreira

Eu já sabia, pelos jornais e revistas, da peregrinação de Dona Maria Prestes pelo Brasil e pelo mundo avivando, principalmente, na memória das novas gerações o  vulto histórico do Cavaleiro da Esperança, o jovem tenente do Exército Brasileiro que liderou a Coluna Prestes e sua importância na história dos movimentos sociais do país, pregando a justiça, o voto secreto e uma educação de qualidade para todos. A sua coluna invicta foi combatida pelas forças militares governistas, aliadas às hostes de jagunços nos estados a serviços dos coronéis, chefes das oligarquias locais, e percorreu o Brasil de sul a norte.

Historiadores avaliam que Prestes e o ideário da sua Coluna anteciparam a eclosão da revolução de 1930 liderada pelo também gaúcho Getúlio Vargas.

Luís Carlos Prestes.
Luís Carlos Prestes.

Aconteceu que certo dia, em 2012, ao buscar no aeroporto os jornais do dia, velho hábito meu, deparei-me com o amigo Fred (apelido de Berro D”água)que possui um serviço de táxi no aeródromo e este me informou que Dona Maria Prestes chegaria à cidade. Ele seria o cicerone, com o seu taxi a serviço dela. Ela viria palestrar para estudantes da UESC e lançar seu livro: “Meu companheiro, 40 anos ao lado de Luís Carlo Prestes”.

Como ele já sabia de minha simpatia pela figura histórica de Luís Carlos Prestes (meu pai  Eronildes Abobreira tinha sido companheiro das lutas do velho PCB aqui na região, inserido no contexto das lutas dos trabalhadores ferroviários, portuários, trabalhadores rurais), me prometeu que se desse tempo, levaria Dona Maria para eu a conhecer.

Dito e feito, poucos dias depois ele bate na minha porta acompanhado de D. Maria e sua filha Mariana. Experimentei forte emoção ao conhecer aquela figura imponente que saíra do agreste pernambucano, por determinação do Partido Comunista Brasileiro, para zelar pela segurança e o bem-estar de Prestes em São Paulo, onde ele vivia na clandestinidade. Da missão política brotou e desabrochou um amor que gerou sete filhos.

De imediato telefonei para o amigo Carlos Pereira:

– Carlinhos, venha aqui em casa. Tenho uma surpresa pra você.

Carlinhos conheceu Prestes pessoalmente. Desempenhou missões no Rio de Janeiro a serviço do PCB. Descreveu com detalhe o estúdio de trabalho do Velho na capital carioca, espaço cedido pelo comunista histórico e grande brasileiro Oscar Niemeyer. Dona Maria se emocionou ao ouvir as observações e lembranças de Carlinhos.

A satisfação tamanha com esse encontro memorável fez com que convidássemos a viúva de Prestes a comparecer na noite seguinte, após a palestra na universidade, ao Fredesko, antigo bar e restaurante do meu primogênito (Fred).  Queríamos prolongar e compartilhar aquela experiência. Ela aceitou o convite e tratamos de reunir a turma: estudantes, intelectuais, jornalistas e representantes da sociedade civil organizada. Realizamos uma cerimônia informal de lançamento do livro e tivemos o privilégio de ouvir mais ensinamentos daquela heroína.

Dona Maria veio acompanhada de Mariana e sua neta Elisa Prestes, professora da UESC.  Vivemos momentos de intensa alegria. Listo de memória alguns amigos e amigas que participaram dessa insigne reunião: Augusta Fidelman- seu pai fora simpatizante do PCB; Emílio Gusmão – comunicólogo e editor deste blog; Michel e Maria do Socorro Mendonça, do INI; Marcolino Reis – jovem estudante do curso de história da UESC; Carlos Pereira, advogado e professor; o saudoso amigo Israel Nunes e sua Stella; Rodrigo Cardoso, presidente do Sindicato dos Bancários e do PC do B em Ilhéus; Janete Lainha, atriz e ativista cultural e Maria Schaun, escritora e sobrinha de Nelson Schaun, esquerdista histórico de Ilhéus, jornalista, professor e pensador do socialismo.

Encontro reuniu bons amigos no Fredesko.
Encontro especial com a viúva de Prestes reuniu bons amigos no Fredesko, inclusive o saudoso Israel Nunes (de camisa preta).

A conversa atravessou a noite. Todos ouviram com atenção as reflexões políticas da ilustre convidada. O encontro  ficou vivamente registrado na memória afetiva de todos que ali estiveram. Adquirimos exemplares do livro sobre Prestes com a devida dedicatória da autora.

Maria Prestes e Emílio Gusmão.
Maria Prestes e Emílio Gusmão.

E Dona Maria Prestes não para na sua saga de aviventar nos brasileiros a memória do nosso herói, o Cavaleiro da Esperança. Recentemente participou de uma viagem a 10 cidades do Rio Grande do Sul, percorrendo caminhos que Prestes trilhou ao iniciar o movimento da Coluna . Foi homenageada em todos os lugares, era a época de comemoração dos 90 anos da Coluna Invicta. Além disso, percorre o mundo, levando corajosamente o testemunho histórico daquele que sonhou com um Brasil mais justo e igualitário para sua gente.

QUE VIVA PRESTES!

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5 respostas

  1. Caro José Henrique Abobreira, fiquei emocionada com o seu relato. É muito bom saber que deixamos esse belo registro na memoria dos moradores de Ilhéus. Mamãe continua sua caminhada, ela é incansável, nos próximos dias viajara para Curitiba e depois interior do Rio de Janeiro. Sempre levando a historia de lutas do Prestes e reavivando na memoria dos mais jovens o quanto é dura a luta por um pais mais justo e igualitário para todos.
    Um forte abraço, Mariana Prestes

  2. Caro Abrobeira,

    Vale salientar que o maior companheiro de Preste em Ilhéus foi Afonso Pinto. Inclusive deu o nome de Luís Carlos Pinto ao seu filho em homenagem a Luís Carlos Prestes.

  3. Caro Patury quando criança e adolescente assisti o velho Afonso Pinto sempre em socorro dos companheiros de luta política em dificuldades, muitos sem emprego e perseguidos pela ditadura militar, encontravam no escritório de Afonso o alento necessário, uma pequena ajuda financeira ou algum pão para matar a fome dos filhos. Seu tio Afonso foi um humanista, de grande coração, homem generoso e que muito ajudou os perseguidos políticos.
    .

  4. AO VER COMENTÁRIO SOBRE O SR. AFONSO PINTO , VOLTO A MEMÓRIA AO PASSADO MINHA INICIANTE IDADE DOS MEUS 20 ANOS QUANDO NA ÉPOCA EU O CONHECI COMO DONO OFICIAL DO JOGO DO BICHO EM ILHÉUS , PESSOA HUMILDE E DE GRANDE PERSONALIDADE COM SUA BONDADE E GENEROSIDADE. AFIRMO AS PALAVRAS DO GRANDE CIDADÃO ILHEENSE. SAUDADES .

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