O congestionamento da Avenida Getúlio Vargas faz parte do cotidiano de Ilhéus. Ele ajuda a entender por que a população espera tanto pela nova ponte entre o Pontal e o Centro. Para construir as vias de acesso ao novo elo, o Governo da Bahia vai demolir residências e um colégio estadual fundado em 1964, o Padre Luiz Palmeira.
Muitas pessoas ouvidas por este blog concordam que a construção da ponte vai beneficiar grande parte da população de Ilhéus e de municípios vizinhos. Compreendem sacrifícios como a demolição de casas e da escola. Contudo, criticam a forma como o governo estadual conduz o processo de desapropriação. Cobram esclarecimentos sobre os prazos das etapas da obra, a definição das residências que serão demolidas e o valor das indenizações.
Até 2016, o Luiz Palmeira era o único colégio público da cidade com educação integral. Conforme dados da secretaria da escola, 260 estudantes fizeram o último ano letivo lá. Com a extinção da unidade, aproximadamente 200 deles perderam as aulas em tempo integral. Não foram todos porque a turma aprovada para o primeiro ano do Ensino Médio poderá estudar nas escolas estaduais que passarão a ofertar essa modalidade de ensino a partir do ano letivo de 2017.
Por outro lado, as novas vagas em tempo integral dos colégios estaduais Luís Eduardo Magalhães, Fabio Araripe Goulart e Antônio Sá Pereira não contemplarão o segundo e o terceiro anos do Ensino Médio, assim como as turmas do Ensino Fundamental II. O governo pretende continuar a ampliação da modalidade no ano que vem. Isso, no entanto, não compensará o prejuízo dos estudantes do Colégio Padre Luiz Palmeira.
De cima para baixo
Corria o ano de 2012 quando Alberico Lemos Camargo Neto pediu à sua mãe, Eliane Camargo, para estudar no Colégio Padre Luiz Palmeira. Ele gostou da oficina de música que fez na escola. A atividade fazia parte do Mais Educação, programa do Governo da Bahia. Frequentava as aulas de arte enquanto esperava Eliane, que dirige o colégio pontalense há nove anos e nove meses. Na última sexta-feira (27), em conversa com o Blog do Gusmão, a diretora ficou visivelmente emocionada ao se dar conta de que a extinção da escola provavelmente será oficializada antes de abril, mês em que completaria uma década no cargo. Além das incertezas sobre o destino dos estudantes do Luiz Palmeira, ela ainda não sabe onde o próprio filho vai estudar.
“Terminamos o ano letivo sem a confirmação da extinção” do colégio, afirmou Eliane Camargo, ao lembrar que os estudantes renovaram as suas matrículas em dezembro de 2016.
Segundo ela, desde 2013 a direção da escola busca informações precisas da Secretaria de Educação do Estado e do Núcleo Regional da Educação (antiga Direc). Foi só no último dia 7 que recebeu uma nota de esclarecimento da secretaria. O texto confirmou a desapropriação da área escolar e os nomes dos colégios para os quais os alunos poderão se transferir – leia aqui.
No último dia 24, os vinte e três professores do Padre Luiz Palmeira participaram de um encontro que definiu as escolas em que lecionarão a partir de 6 de fevereiro. Eliane Camargo descreveu o ambiente emocional da reunião como a “despedida de uma família”.
Perguntamos se o governo estadual conduziu o processo de extinção da escola de forma verticalizada, com uma decisão tomada de cima para baixo. A diretora concordou. Também questionamos se a data da demolição está marcada. “Não sabemos. Não saiu ainda nem a extinção da escola no Diário Oficial”, respondeu.
No dia 29 de abril de 2016, a Prefeitura de Ilhéus doou para o Estado os terrenos do Colégio da Polícia Militar Rômulo Galvão e do Colégio Estadual Padre Luiz Palmeira. Na oportunidade, o governo Rui Costa afirmou que “com a doação, as unidades escolares podem fazer modificações nos prédios e sofrer intervenções de melhoria”. O texto oficial (leia aqui) ignorou que uma das escolas já estava há anos na conta da ponte. Porém, naquela altura, é muito improvável que também fosse ignorada a intervenção prestes a se abater sobre a unidade escolar.
Por volta das 13 horas dessa terça-feira (31), telefonamos para a Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Perguntamos se a data da demolição foi definida e se a direção da pasta está ciente de que a extinção do colégio deixou a maior parte dos seus estudantes sem o ensino integral. A assessoria do órgão preferiu nos responder por e-mail. Recebemos a resposta às 17 horas. O texto não esclarece as questões acima. Reproduz o conteúdo da nota de esclarecimento enviada para a diretora Eliane Camargo. Leia a íntegra abaixo.
Ao Blog do Gusmão
A Secretaria da Educação do Estado da Bahia informa que:
– Está assegurado o atendimento a todos os estudantes de Ilhéus nas escolas públicas.
– Esclarece que o terreno do Colégio Estadual Padre Luiz Palmeira foi desapropriado para a construção da nova ponte Ilhéus-Pontal.
– Os estudantes matriculados na unidade escolar poderão solicitar transferência para o Colégio Estadual Moyses Bohana, para o Colégio Estadual Professora Horizontina ou qualquer outra escola da rede municipal ou estadual de ensino mais próxima de sua residência.
– O Estado está ampliando a oferta da Educação em Tempo Integral para o Ensino Médio em 2017. Portanto, os estudantes do Colégio Estadual Padre Luiz Palmeira poderão optar por continuar os estudos no Colégio Estadual Professor Fábio Araripe Goulart, Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães ou Colégio Estadual Antônio Sá Pereira. Todas as três unidades escolares ofertarão o 1o ano do Ensino Médio em Tempo Integral, já em 2017.
– A Secretaria também estuda a viabilidade de tornar o Colégio Estadual Moyses Bohana em unidade escolar com oferta de tempo integral em 2018.
– Informa, ainda, que os professores e funcionários do Colégio Estadual Padre Luiz Palmeira também serão realocados para outras unidades escolares da Rede Estadual e Ensino.
– Essa decisão é resultado de um estudo minucioso realizado pela Secretaria da Educação do Estado, considerando que a demanda de alunos da unidade escolar deverá ser absorvida por outras unidades, devido à construção da ponte que vai ligar o Pontal ao Morro do Cristo, tendo como prioridade garantir o direito de aprender de todos os estudantes.
Assessoria de Comunicação
Secretaria da Educação do Estado da Bahia
9 respostas
🙁 :(…..
Muito triste 🙁
🙁 🙁 …..
Quando soube que as obras da nova ponte faria sumir do mapa o Colégio PADRE LUIZ PALMEIRA meu coração chorou. Uma geração prestes a sucumbir na história dos seus ex e atuais alunos(as)corpo docente e ex professores(as). Foi nesse colégio que iniciei as primeiras letras do alfabeto. Ainda guardo na memória os momentos felizes que vivi nesse ” cantinho do saber “. Do pré até a quarta série aprendi o valor da cultura, da moral e do civismo, da importância da amizade e a brincar como criança de verdade. Peço a Deus em orações que iluminem os engenheiros, arquitetos, governador, deputados, políticos e a sociedade ilheense acharem uma outra solução para este projeto. TUDO É POSSÍVEL.
Coloca todos os alunos no Colegio Modelo(intergral)o espaco fisico bem legal…e claro linha de onibus tb zona sul _ avenida esperanca ….
Se ao invés de impor, a Secretaria de Educação do Estado procurasse ouvir, principalmente os alunos, teriam diversas sugestões e uma delas é a construção de uma nova escola. Assim como se extingue o Colégio Padre Luiz Palmeira, o governo do Estado pode desapropriar por exemplo o antigo Clube Social do Pontal e nele se construir a nova escola. Porém como sempre eles fazem opção de engodo e enganação.
Bom dia.Estudei nessa escola,e sou grato pela oportunidade.Onde foi a única escola que achei de portas abertas..Que me deu a oportunidade de concluir meu ensino médio….Triste ver uma situação dessa..Onde as pessoas são beneficiadas,e querem acabar…O que deve acabar é aquilo que faz o mal,não o bem…Grato…..
Que tal a fusão com o Colégio Estadual da Proa? Ficam relativamente próximos.
Sinceramete, EU, como ex Professora do MMARAVILHOSO Colegio Padre Luiz Palmeira onde tive a grande satisfaçao de exercer minha funçao como tal por alguns anos e grande amiga da carissima e competente DIRETORA Eliane, nao posso fazer outra coisa que externar a minha indgnaçao e insatisfaçao ao deparar com noticia tao CHOCANTE!!!
Sinceros votos de gratidao aos meus caros colegas que ainda ali continuaram apos o meu afastamento por razoes pessoais, dessa ESCOLA a qual vivi momentos de muitas felicidades, junto aos nossos amados alunos… E’ realmente um pecado essa decisao drastica do Governo, desativar as funçoes de um Colegio tao importante para os alunos residentes nas proximidades… Desejo de coraçao aos meus colegas e aos alunos dessa INSTITUICAO de ENSINO, que possam SE COLOCAR em tempo muito breve em uma outra ESCOLA DIGNA QUANTO…
Boa sorte, cara Eliane! Deus esteja com todos voces!
Um cordial e grande abraço!
Joselita Moraes.